Foi com base neste método que, em 2005, Maria Pinto Teixeira arrancou com o seu “Projecto informal”, dando início a uma nova visão sobre o problema dos animais de rua. Ciente do ineficaz método, ainda hoje realizado pelos canis municipais (capturar – eutanasiar) e do louvável, mas insuficiente trabalho levado a cabo pelas associações de animais, com planos de adopções, Maria Pinto Teixeira decide “atacar definitivamente o problema pela raiz”. Mais de um milhão de animais. Este é o número estimado de animais que vive precariamente nas ruas, na sua maioria sem acesso a alimento e água suficiente, agravando assim o risco de problemas de saúde e da contracção de doenças infecto-contagiosas. Com uma taxa de adopção muito reduzida, face à superpopulação de animais, era imperativo avançar com a sua esterilização, minimizando assim as consequências de uma vida negligenciada.
JP - Maria Pinto Teixeira, o que é que fez despoletar em si a necessidade de criar este projecto?
MPT – Um dia, estava a passear no Parque da Cidade do Porto com um grupo de amigas, quando nos deparámos com uma colónia de cerca de 60 gatos a viver em condições miseráveis. Quase todos estavam doentes, adultos e crias, alguns com os olhos tão cobertos de pus que já não os conseguiam abrir. Ficámos horrorizadas com aquele cenário e queríamos fazer alguma coisa para ajudar aqueles animais, mas não sabíamos como. Os gatos adultos eram silvestres, por isso não se deixavam apanhar para os podermos levar ao veterinário, nem poderiam ser adoptados por famílias que lhes quisessem dar um lar. Por outro lado, percebemos que, mesmo que conseguíssemos tratar aqueles, muitos outros iriam nascer na colónia nas mesmas condições.
Resolvi investigar o que estava a ser feito noutros países para ajudar animais em situação semelhante e tomei conhecimento do método CED (Capturar-Esterilizar-Devolver) ou TNR (Trap-Neuter-Return), que já era usado nos EUA, RU e muitos outros países como sistema de controle populacional de animais errantes. Percebemos que era exactamente este o único método eficaz de ajudar colónias de gatos silvestres e colocámo-lo imediatamente em prática na Colónia do Parque da Cidade. Conseguimos uma armadilha emprestada, uma clínica que aceitou fazer as esterilizações e tratamentos a preços reduzidos, fizemos um apelo na Internet a pedir donativos para as despesas veterinárias e metemos mãos à obra! Todos os gatos foram tratados, esterilizados e desparasitados e as crias foram encaminhadas para adopção.
A diferença na qualidade de vida daqueles animais após a nossa intervenção era tão evidente (como se pode ver aqui: http://www.animaisderua.org/esterilizados/gatos/parque_cidade) que decidimos começar a aplicar o CED noutras colónias da cidade. A pouco e pouco o nosso trabalho foi ficando conhecido e chegavam-nos pedidos de ajuda para esterilização de animais de rua um pouco por todo o país. Foi aí que decidimos criar o Projecto Animais de Rua que, já em 2008, se transformou em associação legalmente constituída.
A diferença na qualidade de vida daqueles animais após a nossa intervenção era tão evidente (como se pode ver aqui: http://www.animaisderua.org/esterilizados/gatos/parque_cidade) que decidimos começar a aplicar o CED noutras colónias da cidade. A pouco e pouco o nosso trabalho foi ficando conhecido e chegavam-nos pedidos de ajuda para esterilização de animais de rua um pouco por todo o país. Foi aí que decidimos criar o Projecto Animais de Rua que, já em 2008, se transformou em associação legalmente constituída.
JP – Já são muitas as pegadas a nível nacional que a Animais de Rua tem deixado ao longo destes 6 anos. Quantos voluntários existem neste momento a trabalhar neste projecto?
MPT – Neste momento temos Núcleos a funcionar no Porto, Lisboa, Lagos e Viseu e contamos com a ajuda de cerca de 100 voluntários.
JP – Muito se tem falado dos protocolos estabelecidos com as Autarquias. De que forma se processa o vosso trabalho junto destas entidades? Podemos dizer que ambos os trabalhos se complementam?
MPT – Sem dúvida! É tempo de terminar de vez com a dicotomia entre entidades camarárias de controle animal enquanto corredores de morte onde os animais são maltratados e por fim abatidos vs associações de protecção animal fundamentalistas e desligadas da realidade. É possível autarquias e associações de protecção animal realizarem um trabalho conjunto e unirem esforços para a prossecução do seu objectivo comum de encontrar uma solução para o flagelo das centenas de milhares de animais que vivem e se reproduzem continuamente no domínio público, e para as graves questões de bem estar animal e de saúde pública que esta situação levanta.O método usado pela esmagadora maioria dos municípios portugueses para o controle populacional de animais errantes, ao longo dos últimos 30 anos, é a sua captura e abate. Ora, este método, para além de ser cruel e desumano, tem demonstrado ser completamente ineficaz pelos motivos que expomos aqui: http://www.animaisderua.org/informacoes/alternativas_falhadas_ao_ced e deve, por isso, ser abandonado.
Através destes protocolos (temos até ao momento protocolos com as Câmaras Municipais de Sintra e Cascais e com a Junta de Freguesia de Leça da Palmeira), aplicamos o método CED e esterilizamos animais que vivem com pessoas sem recursos económicos, nas respectivas localidades. As esterilizações tanto podem ser feitas nas próprias instalações do canil municipal, se tiver condições para isso, como em regime de outsourcing nas clínicas veterinárias privadas que têm protocolo com a Animais de Rua.
JP – Foram realizadas 4862 esterilizações até à data. A colaboração das Clínicas Veterinárias é crucial para a realização da vossa actividade. De que forma funciona esta parceria?
MPT – O trabalho da Animais de Rua não seria possível sem o apoio dos médicos veterinários que acreditam neste projecto e cedem o seu tempo para esterilizar e tratar os animais submetidos ao nosso programa CED. Neste momento, temos protocolos com 29 clínicas veterinárias a nível nacional, através dos quais conseguimos esterilizar os animais a valores muitíssimo mais reduzidos do que os valores comerciais.
JP – Relembrando o problema ocorrido em Loures no ano de 2008, em que cerca de 60 cães viviam no meio de ossadas em condições terríveis, considera que existe muita burocracia na resolução dos problemas dos animais em Portugal? Ou estaremos perante a indiferença, face a uma sociedade que só agora parece despertar para a sensibilização Ambiental e consequentemente Animal?
MPT – Penso que a mentalidade da população portuguesa relativamente à temática da protecção animal tem vindo a evoluir de forma muito significativa ao longo da última década. Um estudo Metris/ISCTE realizado em 2007 revelou que 69,5% dos portugueses entende que as Câmaras Municipais devem proteger os animais nos canis municipais e investir na sua adopção e responsabilização das pessoas que os abandonaram. Apenas 4% dos portugueses pensa que as Câmaras devem matar esses animais e 78,2% entende que as Câmaras deveriam promover e investir na esterilização dos animais errantes.
Infelizmente, os poderes públicos só agora começam a responder às exigências que os cidadãos portugueses fazem nesta área e há ainda muito a fazer para que Portugal seja um país exemplar no que toca à protecção dos seus animais. Isto é revelador dos problemas que o nosso país enfrenta em muitas outras áreas, já que, como dizia Ghandi, “o progresso de uma civilização pode medir-se pela forma como trata os seus animais”.
JP – Vitimas de abandono e sucessivos maus-tratos, falta de acesso a cuidados de saúde primários, esta é a realidade em que vivem os animais no nosso País.
Na sua opinião e tendo em conta a sua formação como Advogada, acha que deve ser revista a Declaração dos Direitos dos Animais em Portugal? Que Leis seriam prioritárias criar/reformular?
MPT – Penso que o fundamental seria alterar o estatuto jurídico dos animais, que neste momento são considerados pelo nosso ordenamento jurídico como “coisas”, meros objectos do direito de propriedade. Os animais deveriam ter um estatuto próprio, como acontece na maioria dos países desenvolvidos, que lhes reconhecesse os direitos que a sua qualidade de seres sencientes naturalmente lhes confere. É de salientar que, segundo o estudo Metris/ISCTE que referi acima, 82,6% dos portugueses acredita que seria muito urgente a criação de uma nova lei de protecção animal em Portugal.
Paralelamente a isso, acredito que seria muito importante existir maior vontade política em aplicar e fazer aplicar a legislação de protecção animal que já existe em Portugal. Esta legislação está muito longe de ser perfeita mas existe, e não é aplicada, ou é aplicada de forma muito deficiente, pelos orgãos encarregues de a fazer cumprir. A esmagadora maioria dos casos de abandono e maus tratos a animais ficam impunes por serem considerados “pouco importantes” pelas autoridades que recebem e processam as respectivas queixas e denúncias.
JP – Tendo em conta o objectivo principal da vossa actividade - pois também promovem a adopção de animais não silvestres, com recurso a FAT’s – que conselhos pode deixar às pessoas sobre os benefícios da castração?
MPT – A esterilização traz inúmeras vantagens, não só ao nível do controle da população animal mas também para os animais individualmente considerados. Os machos tornam-se mais calmos, menos territoriais e com menor tendência a fugir de casa em perseguição de fêmeas em cio, para além de ser eliminada a possibilidade de virem a desenvolver tumores testiculares. Nas fêmeas, a esterilização elimina a possibilidade de virem a desenvolver tumores no útero e ovários, e reduz drasticamente a probabilidade de desenvolvimento de tumores mamários. Para além disso, elimina o stress e angústia associados aos cios.
Qualquer pessoa que adopte um animal de companhia deve informar-se junto do seu veterinário e considerar seriamente a hipótese de o esterilizar.
JP – Existe ainda um longo caminho pela frente e espera-nos um ano particularmente difícil devido à crise generalizada que enfrentamos. Acha que os animais sofrerão mais consequências do que até agora têm enfrentado? Quais as metas da Animais de Rua para 2011?
MPT – Infelizmente, os animais estão já a ser vítimas da crise económica. Todos os dias recebemos contactos de pessoas que deixaram de poder adquirir alimentação de qualidade para os seus animais, ou de suportar os custos de tratamentos veterinários, e por isso querem entregá-los para adopção. Muitas nem chegam a procurar encaminhar os animais para adopção e simplesmente abandonam-nos à sua sorte. Os padrinhos de esterilização também têm sido menos, o que limita a nossa capacidade de resposta aos inúmeros pedidos de ajuda que recebemos.
Em 2011, trabalharemos para aumentar a nossa taxa de esterilizações em 30%, para estabelecer mais protocolos de cooperação com autarquias e para levar o nosso programa educativo a um maior número de escolas. O nosso desejo é que cada ano que passe nos aproxime mais da nossa meta final, que atingiremos no dia em que não existirem mais animais a viver nas ruas do nosso país, sem alimentação, sem cuidados de saúde básicos e sem afecto. Até lá, continuaremos sempre a lutar, o melhor que sabemos e podemos, pelos animais.
Já sabem: a Animais de Rua está presente em Portugal para apoiar todos aqueles que queiram ajudar a conter a população de gatos e cães em qualquer parte do País. Para isso, apenas precisa da sua colaboração. Através de um método indolor, captura os animais, esteriliza-os, efectua uma avaliação do estado geral de saúde do animal e 24h após boa recuperação, o animal é devolvido ao seu meio ambiente onde poderá viver, desta vez, com uma muito melhor qualidade de vida.
Colabore! Apadrinhe os animais para adopção. Patrocine as Esterilizações! Ajude a Animais de Rua a continuar a marcar a sua pegada em Portugal.
Site Animais de Rua – www.animaisderua.org
E-mail Animais de Rua – geral@animaisderua.org
Número Solidário - 760 300 161 (€ 0,60 + IVA)
1 comentários:
Olá resido em quarteira, gostaria de ajudar no vosso projecto. o meu mail é claudialoios@msn.com digam-me como posso ajudar sff. Claudia Loios
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